Tudo que você precisa saber sobre o retorno da Balenciaga à alta-costura
- nathalialocalmagbr
- 12 de jul. de 2021
- 4 min de leitura
O aguardado momento foi adiado duas vezes, mas o retorno da Balenciaga à alta-costura trouxe referências históricas, reinterpretações e surpreendentes arquiteturas visuais
Após 53 anos em hiato, o retorno da Balanciaga à alta-costura marcou um momento histórico e em grande estilo, dessa vez pelas mãos do atual diretor criativo Demna Gvasalia. A maison não apresentava trabalhos de Haute Couture desde o fechamento do ateliê de seu criador, Cristóbal Balenciaga, em 1968. Mas a nova era, desfilada na última quarta-feira (7.07) no ateliê original do estilista espanhol, reviveu esse segmento que faz parte da essência da Balenciaga em sua 50ª coleção.
Com tantas expectativas sobre essa volta, Demna Gvasalia decidiu apostar no formato tradicional dos desfiles de moda, à época em que Cristóbal Balenciaga reinava sobre a marca, com evento restrito realizado no ateliê original do estilista, reformado para parecer intocado por meio do século.
Na ocasião, a marca apresentou 63 criações em um encontro entre arquitetura e formas eternizada por Cristóbal às paixões de Demna por temas ordinários como uniforme, jeanswear, esporte e street. Os looks foram desfilados por mulheres e homens de todas as idades, que iam vestidos de baile até sobretudos. A união entre os universos mostra que a alta-costura não é necessariamente sobre vestidos ricamente bordados para cruzar tapetes vermelhos, e sim sobre peças de técnica e construção impecável feitas sob medida, que mais ninguém no mundo vai ter. E Demna conseguiu fazer isso com maestria.
Até a apresentação é uma homenagem ao trabalho de Cristóbal Balenciaga – e não poderia ser diferente. As técnicas e o trabalho artesanal de altíssimo nível dos ateliês de alta-costura são uma das poucas coisas que não poderão ser substituídas pela tecnologia. O desfile, que parece simples e até causa incômodo pelo silêncio e barulho ambiente, também é proposital: os desfiles de moda não tinham som ou música até meados dos anos 70, nesse sentido, a era de ouro da Balenciaga foi apresentada sem música ambiente, sendo possível ouvir os diferentes sons emitidos pelos tecidos em movimento.
Em entrevista para Suzy Menkes, Demna Gvasalia conta:
“A maioria das pessoas me coloca em uma caixinha de alguém que só desenha moletons e tênis, e isso não é quem eu sou. Para mim essa oportunidade foi muito importante para mostrar quem eu sou enquanto designer e isso foi uma manifestação disso”.
Eliza Douglas, musa do designer, abriu o desfile, carregando uma rosa vermelha e vestindo num conjunto de terno de ombros estruturados, seguida por uma sequência de looks em alfaiataria unissex em preto e já dando sinais de qual seria a nova proposta de Couture de Demna para sua diversa clientela.
Além disso, alguns looks fazem claras referências a criações icônicas de Cristóbal Balenciaga, como o casaco vermelho, o vestido de flor e a reverenciada noiva com vestido túnica de Cristóbal. Quem imaginou que veríamos Demna Gvasalia criar uma noiva? O designer, extremamente ligado ao mundo do streetwear e do jeans, também traz esses elementos para a passarela criando looks de alta-costura inspirados no Ready-To-Wear [pronto para usar], de forma surpreendente e irônica: foi justamente o surgimento do Prèt-à-Porter [roupas produzidas em série] um dos principais motivos para o fechamento do ateliê de Cristóbal Balenciaga.
Outro ponto alto ficou por conta da imagem e styling dos chapéus, acessório importante do patrimônio da maison. Na nova coleção, os modelos foram assinados pelo chapeleiro inglês Philip Treacy.




Poucas pessoas tiveram a chance de assistir ao desfile presencialmente. A lista de convidados era super restrita, como os antigos desfiles de alta costura. Estavam presentes somente os principais nomes da imprensa, potenciais clientes, Salma Hayek com Henri-François Pinault, Kanye West e o piloto Lewis Hamilton.

Guarda-roupa para a vida real
Desde 2015 à frente da Balenciaga, partiu de Demna Gvasalia o desejo da marca voltar à alta-costura. A nova coleção começou a ser desenvolvida em 2019 e seria apresentada em 2020, mas foi adiada duas vezes por causa da pandemia. O tempo, porém, foi crucial para que o diretor criativo enriquecesse ainda mais as criações.
A ideia original era prestar homenagem aos arquivos da marca, mas ele acabou mixando-os ao guarda-roupa moderno que vem construindo para a Balenciaga. Assim nasceu uma alta-costura pensada na “vida real”.
“Não quero que meu público potencial fique limitado às mulheres nos palácios de Veneza, assim seria meio difícil dizer que estou tentando modernizar a alta-costura”, disse ele em entrevistas, que exibiu conjuntos de alfaiataria, calças e jaquetas jeans e até uma camiseta. “Alta-costura para mim é tirar um tipo de produto mundano do guarda-roupa da moda contemporânea e torná-lo especial, fazendo isso por meio do material, do artesanato, da construção, da silhueta e tudo mais”, comenta.
Sempre conectado com o mundo contemporâneo, Demna criou uma coleção sem gênero, trabalho que foge do viés de Cristóbal, especializado em desenvolver roupas apenas para mulheres.
Mas hoje, estamos em outra época e a moda precisa acompanhá-la. “Se eu quiser fazer alta-costura em 2021, sinto que não posso realmente atribuir um gênero”, afirmou Demna, que escalou “não-modelos” de todas as idades para o desfile de retorno da Balenciaga à alta costura.
*Com informações dos portais FFW e Vogue Brasil.
Comments